Douglas Tomácio
Confissões de um ainda resisente
(um quê de tempo que jamais se apaga)
7:00 h... Mais um dia. (Re)começa a íngreme mineira vida. Sim, atrás de morro tem morro, ainda que em Curitiba.
Percorri tantos, subi ladeiras e ainda fica a sensação do não cume. Morros que, vivos, demonstram-me a força da morte anunciada. Mas atrás de morro tem morro. Tudo não é, está sendo. Não é isso que ele diz? Se não for assim...
Mais gases. 20 mil deles, desses de mim. Destes desvalidos. Pimenta tão cedo. Vida danada de ardida. Árdua labuta de conto que se conta, que todos já leram, viram, sabem. Nada de tão novo.
Sangue dado é sangue arrancado. Dias e dias dando meu sangue, tenho este expropriado de mim pelas mãos daqueles que, tendo já passado pelas minhas, hoje devolvem com palmatória sem igual. Fracassei? Fracassamos.
Som alto! Explodem emoções... que nada! São bombas! Mas sinto as emoções também explodindo, no descontrole. Fecharam as portas? Porquê? Que isolamento é esse? Não havia sido dito que..."corre"!!! Descontrole.
Olho o mundo à volta. Sob neblinas produzidas, fica a poética das imagens: lágrimas, gritos, tiros. Roupas rasgadas e cães raivosos. As faces são agora pintadas por novos contornos, daquelas naturais tintas que, de luta, assinalam também certo luto na avermelhada expropriada cor.
Estranho, todos dizem querer o mesmo... mas não do mesmo!
A esperança parece beijar-me, despedindo-se. Ainda resisto, insisto... se bem que... tempo.
“Fiim (filhim), sê bobo, nada dessa vida vale a vida toda. Atrás de morro tem morro", dizia a Tia Salica; sempre à beira do fogão a lenha, naquele Jequitinhonha que a nós formou.
Por muitos anos, não entendi: "sê bobo", complexidades da tia língua tão docemente falada...
Agora o entendo. Preciso ser bobo. Como todo bobo que se preza, esquecer não é o caminho.
Meu tempo temporário é em mim infinito. É o que me faz ainda lutar. "1 A, B, C, D...
1 Q dele"... E assim também alfabetizo a vida, ainda que sob o peso de sangue.
Não se iluda... falo do nosso sangue, do sangue de todos nós, mesmo que estampado em minha face.
Vida de tempo que jamais se apaga... sou bobo.